Aos 8 anos, menina vence dois cânceres e mãe se emociona: 'Vê-la sendo criança de novo é um milagre'
Aos 8 anos, menina vence dois cânceres e mãe se emociona: 'É um milagre' Após quatro anos de incertezas, angústias e medo, a família de Luanny Mendes, de ...

Aos 8 anos, menina vence dois cânceres e mãe se emociona: 'É um milagre' Após quatro anos de incertezas, angústias e medo, a família de Luanny Mendes, de Guará (SP), tem um motivo especial para sorrir. Nesta semana, a menina de 8 anos completou 24 meses em remissão de um tumor de Wilms, tipo raro de câncer que afeta os rins de crianças, e de um tumor no pulmão. Até aqui, a história de Luanny foi marcada por cirurgias, sessões de quimioterapia e longas internações. Mas, a partir de agora, a menina tem uma vida nova pela frente. Recentemente, Luanny tocou o sino no Hospital do Câncer de Franca (SP) -- que marca a remissão de um tratamento -- de forma definitiva. Desde então, realiza acompanhamento trimestral com exames de sangue, tomografias e avaliações cardiológicas. ✅Siga o canal do g1 Ribeirão e Franca no WhatsApp Para a mãe, Sandra Mendes, cada nova etapa vira comemoração. "Vê-la sorrindo, brincando, conseguindo fazer as coisinhas dela, sendo criança de novo, é um milagre. Eu olho pra ela hoje e vejo uma força que nem sei explicar. Ela é a minha fortaleza. Todo mundo achava que era eu que era forte, mas quem me manteve de pé foi a Luanny". Luanny foi diagnosticada com tumor de Wilms aos 4 anos. Os primeiros sintomas surgiram de forma discreta, com febres recorrentes, perda de apetite e um leve inchaço no abdômen. Luanny Mendes foi diagnosticada com um tipo raro de câncer no rim aos 4 anos - o tumor de Wilms. Arquivo pessoal Ao g1, Sandra contou que, em poucos dias, viu o volume da barriga da filha aumentar e procurou atendimento médico. Exames de imagem mostraram uma massa de 12 centímetros no rim esquerdo. “Quando notei o calombo na barriguinha dela fiquei muito assustada. Levei correndo na pediatra achando que fosse uma hérnia. Nunca imaginei que ouviria a palavra câncer. Lembro que estava sentada na cadeira do hospital, meu marido estava com a Luanny no colo. O médico me chamou, olhou nos meus olhos, e disse que havia uma massa no rim dela. Naquela hora, eu senti o chão abrir". Sem reação, Sandra disse que ficou sem saber o que fazer. Eu só pensava 'por que com ela? Por que com a minha filha?' De acordo com a pediatra Cibele Cristina Castilho, do Hospital do Câncer de Franca, embora raro, o tumor de Wilms é o câncer renal mais comum na infância. "Ele se forma a partir de células embrionárias que sofrem mutações durante a formação dos rins e passam a crescer de forma acelerada. O sintoma mais frequente é o aumento do abdômen, percebido, muitas vezes, pelos próprios pais". Segundo a Sociedade Brasileira de Patologia, o tumor tem índice de cura de até 95% quando diagnosticado precocemente. No caso de Luanny, a detecção já veio com o tumor avançado, exigindo tratamento imediato. O que é o tumor de Wilms O tumor de Wilms, ou nefroblastoma, é o tipo mais comum de câncer renal na infância. Apesar de raro, representa a maioria dos casos de tumores renais em crianças e costuma surgir entre os 2 e os 5 anos. Na maioria das vezes, afeta apenas um rim. No caso da Luanny, foi o rim esquerdo. O diagnóstico é feito por exames de imagem, como ultrassom e tomografia. O tratamento combina cirurgia, quimioterapia e radioterapia, dependendo do estágio da doença. Mesmo nos casos mais complexos, os índices de cura são altos. Durante todo o tratamento, a mãe acompanhou cada etapa ao lado da filha Arquivo pessoal Por crescer rapidamente e apresentar poucos sintomas iniciais, o tumor de Wilms costuma ser detectado quando já há aumento do volume abdominal. Em casos avançados, pode se espalhar para outros órgãos, como os pulmões (o que também aconteceu com Luanny). Dias de medo e de fé Poucos dias depois do diagnóstico, a menina iniciou a quimioterapia no Hospital do Câncer de Franca. Após quatro sessões, Luanny passou por uma cirurgia para retirar completamente o rim afetado. O procedimento foi bem-sucedido e a resposta inicial ao tratamento foi positiva. Foram 12 meses de rotina hospitalar intensa. Entre medicações, quedas de imunidade e efeitos colaterais, a família reorganizou a vida em função do tratamento. “Ela era muito pequena, mas entendia tudo. Foi muito difícil. Foram dias de medo, mas também de muita fé. Eu parei tudo na minha vida pra viver em função dela. Era ver ela passar mal, perder o cabelo, mas continuar sorrindo. E cada sorriso dela me dava força pra continuar”. Ao final do primeiro ciclo, Luanny tocou o sino da cura, gesto simbólico entre pacientes oncológicos que marca o fim da quimioterapia. O momento trouxe alívio e a sensação de que a fase mais difícil havia terminado Luanny tocou o sino duas vezes — símbolo do fim do tratamento e da remissão Arquivo pessoal Recaída e transplante Seis meses depois, durante exames de rotina, os médicos identificaram novos nódulos, agora no pulmão de Luanny. A notícia interrompeu o breve retorno à normalidade. Esta fase exigiu quimioterapia mais agressiva (conhecida como protocolo ICE) e internações prolongadas. Os médicos também recomendaram o transplante de medula autóloga, feito no Hospital de Amor, em Barretos (SP). Ficamos muitos dias isoladas dentro do hospital. Eu lembro da primeira noite, ela olhou pra mim e disse 'mamãe, eu tô cansada'. Ela estava exausta, sem forças, e aí ela me perguntou 'mamãe, se eu quiser ir descansar, virar anjinho, você deixa?' Foi a conversa mais difícil da minha vida. Eu segurei o choro e disse 'filha, a mamãe vai te amar em qualquer lugar. Aqui ou no céu, você sempre vai ser minha filha'. Naquela noite, eu ajoelhei e pedi pra Deus não levar minha menina. O transplante deu certo. Desde então, Luanny celebra duas datas especiais: o dia do nascimento, 20 de junho, e o dia em que a nova medula pegou, 21 de julho, que se tornou o símbolo do renascimento. A medula “pegou” depois de 40 dias de isolamento no Hospital de Amor, em Barretos (SP) Arquivo pessoal Neste ano, a menina tocou o sino pela segunda vez, para fechar, finalmente, o ciclo. Para Cibele, casos como o de Luanny são motivo de orgulho. "O toque do sino representa o encerramento de um ciclo muito difícil, vivido pela criança e pela família. É uma vitória coletiva, da equipe médica e dos pais que nunca desistiram. Hoje ela leva uma vida completamente normal, mas com acompanhamento constante. As quimioterapias podem deixar efeitos tardios, então o seguimento médico é essencial". Ao g1, Cibele explicou que, na maioria das vezes, a criança apresenta um tumor em um rim e são bem raros os casos em que se tenha mais de um tumor em um só rim ou tumores em ambos os rins. Em casos ainda mais graves, o câncer pode se expandir para os pulmões. "Como esses tumores crescem depressa e não apresentam sintomas nos estágios iniciais, eles costumam ser grandes quando são diagnosticados e às vezes se espalham para outros órgãos, especialmente para os pulmões". Alegria fora do hospital Desde o início do tratamento, Luanny participa das ações do chef de cozinha Alex Sabino, voluntário há seis anos em projetos do Hospital do Câncer de Franca. Neste ano, a menina esteve no evento especial de Dia das Crianças como paciente em remissão, livre da doença. A ação nasceu da vontade do chef de proporcionar um dia fora do ambiente hospitalar às crianças em tratamento. Com apoio do Franca Shopping e de empresas parceiras, o grupo oferece momentos de lazer com cinema, brinquedos, lanche e entrega de presentes. "Quando comecei, queria apenas cozinhar algo simples e ver um sorriso. Hoje, são mais de 50 crianças participando. Ver a alegria delas é o que me move". Sabino perdeu o pai para o câncer e diz que as ações são a forma que encontrou de retribuir. "Só de dar estes momentos de felicidade para eles, já vale muito para mim. Eu sou de Franca, mas me mudei e passei muitos anos longe daqui. Há alguns anos, quis voltar para cá, queria retomar este contato e poder proporcionar isso a eles, é indescritível. A Luanny participa desde pequena. Este ano foi especial, porque ela veio como uma criança curada e isso me traz muita alegria". Ela participa desde o primeiro ano de tratamento da ação do chef Alex Sabino, em Franca — e, neste ano, foi como uma criança em remissão Arquivo pessoal Dois anos após o fim do tratamento, Sandra diz que a fé foi o que sustentou a família. Para ela, a história da filha é um lembrete de que o diagnóstico não é o fim. "Tiveram dias em que achei que não ia aguentar, que pensei que ia perder minha filha. Mas a fé me sustentou. Deus me mostrou que o impossível pode acontecer. Hoje, quando olho pra Luanny, vejo um milagre andando pela casa". Hoje, Luanny leva uma vida normal: voltou à escola, faz balé e natação Arquivo pessoal *Sob a supervisão de Flávia Santucci Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região