Software de Israel extrai dados de 15 celulares e pode ajudar polícia a saber quem matou empresário no autódromo de SP
Morte de empresário em Interlagos completa dois meses: o que se sabe e o que falta esclarecer sobre o caso A Polícia Civil de São Paulo está usando um equip...

Morte de empresário em Interlagos completa dois meses: o que se sabe e o que falta esclarecer sobre o caso A Polícia Civil de São Paulo está usando um equipamento de Israel para extrair dados de ao menos 15 celulares e de três computadores que podem ajudar a esclarecer como foi o assassinato de Adalberto Amarílio Júnior e identificar quem cometeu o crime no Autódromo de Interlagos. O g1 apurou como está a investigação do caso, que ainda não foi esclarecido. Quatro meses após a morte do empresário encontrado seminu dentro de um buraco, ainda não se sabe a autoria do homicídio. Uma das esperanças das autoridades para esclarecer o assassinato é justamente o software israelense Cellebrite. Adquirido por mais de R$ 11 milhões, ele pode recuperar conversas apagadas de WhatsApp, fotos, áudios, vídeos, histórico de pesquisa na internet e apontar a geolocalização de quem usou o celular, além de informar quando isso ocorreu. Os aparelhos que estão sendo analisados pelo Cellebrite foram apreendidos com a própria vítima, um amigo dela, sete seguranças e dois produtores do evento em Interlagos para onde Adalberto foi antes de desaparecer e morrer. Enquanto os relatórios com análises dos telefones não ficam prontos, as únicas certezas da investigação são que o empresário sumiu em 30 de maio após participar do festival de motociclismo no autódromo. E que seu corpo foi encontrado em 3 de junho numa obra no local. O cadáver estava num espaço com 3 metros de profundidade por 70 centímetros de diâmetro. Sobre ele, o capacete da vítima _mas sem a câmera com a qual havia filmado o evento e postado as imagens nas suas redes sociais. Corpo de empresário foi encontrado em buraco no Autódromo de Interlagos Reprodução A Polícia Civil investiga se seguranças estão envolvidos no homicídio do empresário encontrado orto num buraco no Autódromo de Interlagos, na Zona Sul de São Paulo . Quando Adalberto foi retirado sem vida do buraco, vestia jaqueta, camiseta e cueca, segundo policiais. Estava sem calça nem tênis. Para a investigação, o empresário foi colocado lá por quem o matou. Mas quem fez isso com ele, como e por quê? Polícia descartou possibilidade de que morador de rua pudesse ter pego roupas que supostamente seriam do empresário. Investigação analisou vídeo de câmera de segurança (acima) e não conseguiu comprovar essa possibilidade. Imagem é de fora do autódromo de Interlagos Reprodução O Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) continua trabalhando para identificar o autor do crime. A hipótese mais provável, segundo os policiais, é a de que Adalberto possa ter discutido com algum segurança ao atravessar alguma área restrita no kartódromo. E depois ter brigado e sido morto por ele. Polícia encontra sangue no carro de empresário achado morto em buraco de obra Não está descartada a participação de mais pessoas no homicídio, inclusive de frequentadores do evento, já que milhares de visitantes foram ao festival. O laudo pericial da Polícia Técnico-Científica concluiu que o empresário teve morte violenta por asfixia. Ainda não se sabe se causada por esganadura (já que foram encontradas escoriações no pescoço dele) ou por compressão torácica (alguém pode ter comprimido o pulmão da vítima com o joelho). A polícia chegou a investigar até se moradores de rua pegaram supostamente as roupas de Adalberto numa lixeira do lado de fora do autódromo. Mas descartou essa possibilidade após analisar imagens de câmeras de segurança e não conseguir comprovar essa possibilidade (veja foto acima). Polícia apura se seguranças, vendedores ou frequentadores estão envolvidos em homicídio 15 celulares e 3 notebooks Na busca por respostas, a Equipe D Sul da 1ª Delegacia da Divisão de Homicídios do DHPP, responsável pela investigação, vai analisar os relatórios do Departamento de Inteligência da Polícia Civil (Dipol) sobre as extrações dos dados dos telefones e computadores apreendidos. O Dipol tem 11 máquinas do programa israelense Cellebrite para conseguir informações. O mesmo sistema é adotado pela Polícia Federal (PF) e pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). No caso da polícia paulista, o Cellebrite está analisando aparelhos apreendidos com 11 pessoas no inquérito sobre o empresário morto em Interlagos. Veja quais são: 1 celular e 1 notebook de Adalberto; 2 celulares de um amigo do empresário que tinha se encontrado com ele no festival de motociclismo; 10 telefones e 2 notebooks de sete funcionários da Malbork Serviços de Vigilância e Segurança e da ESC Fonseccas Segurança Eirelli. As duas empresas atuaram no autódromo durante o evento, entre 29 de maio e 1º de junho; 2 celulares de dois produtores do evento de motos no autódromo. Eles não são vinculados diretamente a nenhuma empresa. Como os telefones foram entregues com as senhas de cada um deles, não há necessidade de que o software faça inúmeras combinações para desbloquear os aparelhos, outra funcionalidade que ele executa. As autoridades ainda não têm um número preciso da quantidade de memória que estão nos celulares, mas estimam que todos eles tenham algo próximo a 1 terabyte. Isso não significa, no entanto, que quem teve o celular apreendido é considerado suspeito de envolvimento no caso. Até porque ainda não há nenhum indício de crime contra ninguém. O objetivo da análise dos aparelhos é tentar encontrar alguma informação que indique a participação de alguém no assassinato. A polícia busca nos telefones eventuais diálogos antes, durante e depois do crime, ou se alguma pessoa comentou o nome de algum suspeito ou eventualmente falou ou escreveu algo sobre o caso. Afinal de contas, dos donos dos aparelhos conversaram com outras pessoas, que talvez possam saber alguma coisa a respeito do homicídio. Empresas de segurança Prédio do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) no Centro de São Paulo. Divulgação/SSP A empresa de segurança Malbork informou à investigação ter levado 13 seguranças para trabalhar no autódromo no dia 30 de maio, quando Adalberto foi ao festival. Há alguns anos a empresa é responsável pela proteção patrimonial de Interlagos. Por esse motivo, a polícia apreendeu celulares de dois coordenadores da firma. A ESC, por sua vez, alegou à polícia ter disponibilizado 188 seguranças durante a realização do festival onde Adalberto desapareceu e foi encontrado morto. A empresa cuidou exclusivamente da vigilância do evento. Inicialmente, três de seus coordenadores também tiveram os celulares apreendidos para análise. Mas como a lista de profissionais que a ESC repassou ao DHPP não tinha os nomes de dois funcionários, a investigação desconfiou. E pediu à Justiça mandados de busca e apreensão para serem cumpridos na própria empresa e em endereços ligados às pessoas que deixaram de ser citadas. Com autorização judicial, policiais apreenderam em 18 de julho quatro celulares e dois computadores. Uma dessas duas pessoas não mencionadas anteriormente pela ESC é um segurança praticante de jiu-jitsu. Ele acabou detido pela polícia por posse irregular de munições. Foram encontradas 21 balas de revólver calibre 38 _a arma não foi achada. Os cartuchos e o celular dele acabaram apreendidos. Levado em flagrante à delegacia, ele pagou uma fiança de R$ 1.804 para responder em liberdade ao crime pelo Estatuto do Desarmamento. Em 22 de agosto, esse segurança que pratica artes marciais se tornou réu na Justiça por posse ilegal de munições. Posteriormente ele será julgado por esse crime. O homem também tem passagens criminais anteriores por furto, associação criminosa e ameaça. Até a última atualização desta reportagem não havia comprovação, segundo as autoridades, de que esse segurança tenha envolvimento com a morte de Adalberto. Vídeos mostram empresário Polícia trata como crime morte de empresário no autódromo de Interlagos A investigação policial é acompanhada pelo Ministério Público (MP). Policiais e promotores tentam saber em quais circunstâncias Adalberto morreu e quem o matou. Mas não há vídeos mostrando o crime nem denúncias a esse respeito apontando um ou mais culpados. As imagens que a investigação tem são as de câmeras de segurança que gravaram Adalberto entrando e caminhando no evento, e passando pelo estacionamento do kartódromo (veja vídeo nesta reportagem). O empresário havia deixado seu carro no local. As cenas não mostram, no entanto, nenhuma briga. Até a última atualização desta reportagem, as autoridades continuavam tentando identificar o assassino. O objetivo é o de comprovar a principal hipótese para o crime: de que seguranças podem estar envolvidos na morte de Adalberto. Uma terceira empresa atuou no autódromo, a Cava Vigilância e Segurança. Apesar de ter levado 31 empregados para a montagem da estrutura do festival de motos, seus funcionários não tiveram celulares apreendidos para análise. Como o trabalho deles foi finalizado antes da abertura oficial do evento, a polícia avaliou que não havia necessidade de apreender aparelhos de representantes da empresa. Apesar disso, o diretor-geral da Cava, Flávio Carrera, foi ouvido pelo DHPP. "Nossa participação no caso foi de colaborar com as investigações informando que não tínhamos qualquer acesso ou atuação no local da ocorrência, o que ficou devidamente esclarecido e comprovado, por essa razão, não temos nada a acrescentar ou a declarar sobre o episódio", falou Carrera também ao g1. 15 pessoas ouvidas Possibilidade de trajeto percorrida por empresário morto no autódromo de Interlagos Reprodução/TV Globo O Departamento de Homicídios já ouviu ao menos 15 pessoas no inquérito que investiga o assassinato de Adalberto. Prestaram depoimentos a viúva e mãe da vítima, o amigo do empresário, representantes do autódromo, do kartódromo e das empresas de seguranças, entre outras. O processo principal já tem cerca de 300 páginas. Há ainda mais dois processos paralelos sobre o mesmo caso. "A família preferiu, nesse momento, não se pronunciar oficialmente, mas que confia no trabalho da polícia e aguarda por respostas das autoridades”, disse um parente de Adalberto ao g1. Ele pediu para não ser identificado. Adalberto tinha 35 anos, era dono de uma rede de óticas e casado. Ele não tinha filhos. 'É um pesadelo sem respostas', diz mulher de empresário encontrado morto em Interlagos "Após quatro meses de angústia, é natural a ansiedade da família e dos entes queridos de Adalberto, que anseiam por respostas e pela conclusão da investigação. Ressaltamos, contudo, nossa total confiança no trabalho das autoridades policiais responsáveis pela investigação. Reconhecemos a complexidade do caso, mas compreendemos que ele exige rigor, paciência e a observância estrita do devido processo legal, a fim de garantir que todas as etapas do inquérito policial sejam cumpridas. O DHPP está empenhado e dedicando seus melhores esforços para solucionar este trágico assassinato", disse o advogado Leandro Falavigna, que defende os interesses da família do empresário. O que diz a Marbork Polícia identifica suspeito de ter matado empresário encontrado morto em buraco em SP O g1 procurou a Malbork para comentar a investigação sobre a morte de Adalberto neste ano no Autódromo de Interlagos, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem. A empresa também foi questionada sobre qual era seu posicionamento a respeito do fato de que dois de seus seguranças são réus pelo assassinado de um catador de latinhas em 2024 no mesmo autódromo. Os acusados estão presos preventivamente aguardando a Justiça marcar a data do julgamento deles. A Malbork é contratada pela Prefeitura de São Paulo após ganhar licitação para atuar dentro do Autódromo de Interlagos, que pertence ao município. A empresa continua fazendo a segurança do lugar. O que diz a prefeitura Empresário gravou vídeo no Autódromo de Interlagos antes de desaparecer Reprodução/TV Globo Questionada pelo g1, a Prefeitura de São Paulo confirmou que desde 2020 tem contrato com a Malbork para a empresa fazer a segurança interna do autódromo. "A Malbork Serviços de Vigilância e Segurança foi contratada por licitação em 2020 pelo Munícipio para fazer a segurança exclusivamente patrimonial do equipamento público, assim como o controle de acesso nos principais portões, 24 horas por dia", informa trecho da nota da prefeitura. Sobre a acusação de que seguranças da Malbork mataram um catador no ano passado dentro do autódromo, a administração pública informou que "as duas pessoas acusadas de envolvimento no caso mencionado de 2024 estão presas." A prefeitura não respondeu se os vigilantes acusados de matar o catador continuam vinculados à Malbork. E também não comentou o fato de que outros seguranças da mesma empresa são investigados no inquérito sobre o assassinato de Adalberto em 2025. O que diz a ESC Empresário achado morto em buraco no autódromo pode ter sofrido compressão torácica e asfixia Procurada pelo g1 para comentar o assunto, a ESC informou que o inquérito policial que apura quem matou o empresário neste ano ainda não foi concluído pelo DHPP. "Refere-se a uma investigação em andamento, sem qualquer conclusão definitiva até o presente momento. Reforçamos que não houve indiciamento de nenhum dos colaboradores da empresa ESC no referido procedimento investigativo", informa trecho da nota da empresa de segurança. "A ESC tem acompanhado com seriedade e responsabilidade o desenrolar das apurações conduzidas pelas autoridades competentes, colaborando integralmente com a Justiça e adotando as providências internas cabíveis", continua o comunicado. "Reiteramos nosso compromisso com a ética, a legalidade e a prestação de serviços com excelência, prezando pela segurança, pelo respeito à vida e pela integridade de todos os envolvidos." ESC foi contratada para o festival de motos pela Revista Duas Rodas, que organizou o evento. O que diz a Duas Rodas Carro de homem desaparecido no Autódromo de Interlagos Reprodução/TV Globo Questionada, a Revista Duas Rodas, que organizou o festival de motociclismo no autódromo, entre 28 de maio e 1º de junho, e também contratou a ESC para fazer a segurança do evento, informou que a empresa de vigilância é "homologada pela prefeitura." E que durante o tempo que trabalhou com a ESC, "nunca tivemos ocorrências em nenhuma das edições anteriores do evento", desde 2022. Ainda, segundo a Duas Rodas, "a ESC Fonsecas forneceu um efetivo de mais ou menos 180 colaboradores para realizar a segurança do evento, ressaltando que eles não portavam armas." A revista também alega ter entregue à polícia "a lista completa dos funcionários do evento", bem como se colocou à disposição para contribuir com a investigação "na elucidação do caso." "Entregamos todas as imagens de segurança antes mesmo de haver uma requisição oficial das autoridades policiais", informa a Duas Rodas. "Prestamos apoio diretamente à esposa e alguns amigos da vítima que foram até o evento. Eles foram recebidos diretamente pelo responsável do evento e tiveram todo o apoio à época requisitado", continua a organizadora do evento. Recentemente a polícia pediu um prazo maior à Justiça para concluir o inquérito. Ganhou mais 60 dias para isso. A "dilação de prazo", como é o nome do pedido de prorrogação da conclusão de uma investigação, pode ser pedidas quantas vezes as autoridades acharem necessário. Caso a polícia e o MP entendam que todas as tentativas de se encontrar o culpado pela morte de Adalberto tenham se esgotado, eles poderão requerer à Justiça o arquivamento do caso. Software de Israel ajuda polícia de SP a tentar descobrir quem matou empresário em Interlagos g1 Design LEIA TAMBÉM: Seguranças investigados por morte de empresário achado morto em buraco no autódromo apagaram dados de celulares, diz delegada Morte no Autódromo de Interlagos: o que se sabe e o que falta esclarecer sobre caso do empresário achado em buraco